Thanks to wine there is the kiss!
Comet Vintages and the Secret of Magic
- You know, Daniel, I’ve been here and there - Grandpa said… and I have accomplished quite a few things in life. I can remember from my early days as a street artist that the hardest thing to do was not to catch someone’s attention. That’s was quite easy in fact; a set of shiny clothes, a loud voice, those things would do the trick, but only to catch an eye for a couple of seconds.
- Having people’s attention, to get them on the hook, there’s got to be a mystery somewhere; one’s mind must be intrigued. If you know what comes next, you are no longer interested, my dear. Produce the unexpected and you have won yourself an admirer; reveal the secret and the allure is gone!
Long time waiting
O Jogador de Sinuca e o Julgamento de Paris
Charlie estava na época em que normalmente as pessoas dão uma guinada na vida, quando o jogo começa a se definir. Mas não era o caso do nosso “dois dedos”, apelido esse ganho nos torneios de billiard da ala norte de seu condado quando ainda não ostentava a calvície e seus cabelos lembravam um lindo por do sol alaranjado; agora, o que restava, se mostrava um dia londrino, antecipadamente grisalhos.
10. Essa não era a nota de Charlie pelas suas apresentações nas mesas do mundo e sim a média de suas colocações nos campeonatos que disputava, sempre por volta do décimo lugar. Suas partidas, apesar do resultado morno, sempre se mostravam dramáticas, Charlie perdia suas partidas não pela superioridade técnica de seus adversários, mas pelo fato de que suas tacadas deixavam a bola a poucos centímetros de onde desejava; não era um mau jogador, faltava-lhe muito pouco para conseguir o objetivo, sempre alguns centímetros, dois dedos...
Durante o campeonato aberto do condado daquele ano, Charlie encerrou sua participação no sétimo lugar. Após a entrega das taças, bebeu algumas doses de Sherry com seus amigos de taco, vestiu seu surrado sobretudo e despediu-se, deixando-se levar pelo vento do inverno.
Pouco se soube, ou melhor, nada se soube de Charlie por um tempo, não aparecia para os jogos de terça-feira, nem para assistir aos jogos de cricket e conferir suas apostas. Assim se passaram alguns meses.
Às vésperas do grande campeonato anual, Charlie reapareceu no clube. Tudo como antes, a não ser por um detalhe. Uma grande aliança dourada no dedo anelar da mão esquerda. Não era um simples anel, ostentava ele uma grande coroa dourada que quase lhe ocupava a falange inteira. Dois Dedos havia se casado, dizia que encontrara a felicidade numa breve viagem de férias, que por questões do coração havia se estendido e se materializado em seu dedo. Afora isso, lembrava o velho Charlie.
No dia seguinte, ainda cedo para os padrões da época, Charlie chegou para se preparar para sua primeira partida no campeonato. Sua partida se desenrolou da mesma maneira como sempre se percebia e se esperava do velho Charlie Dois Dedos, no entanto aos poucos se notou um pequeno-grande detalhe, os míseros dois dedos não faltavam mais nas tacadas de Charlie e seu jogo estava primoroso.
Os amigos não entendiam o que acontecera com o jogador mediano mais consistente que já haviam conhecido. Uns diziam que o amor lhe dera a confiança necessária para superar suas dificuldades e segurança para arriscar suas melhores tacadas. Outros entendiam que a grossa aliança tratou de equilibrar sua mão na mesa e corrigiu sua linha de tacada.
O que de fato ocorreu, não se sabe. Sabe-se apenas que a partir desse dia, todos conheceram e admiraram Charlie “Dedo de Ouro” Gomez.
Em 24 de maio de 1976 foi realizado o Paris Wine Tasting, organizado pelo inglês Steven Spurrier. Tal evento tratava-se de uma degustação às cegas de diversos vinhos tintos e brancos franceses e californianos.
A competição contou com a presença de alguns dos maiores nomes da enologia daquela época, além de participantes do quilate de Chateau Haut-Brion e Mouton-Rothschild. No entanto, os grandes vencedores do concurso não foram os franceses, até então senhores absolutos do lugar mais alto do mundo do vinho, e sim os desconhecidos, subjugados e até inferiorizados vinhos californianos.
O clima instaurado na França por conta dessa “tragédia” rendeu críticas e deboches à degustação por parte dos maiores veículos de comunicação franceses, porém, a opinião dos especialistas foi clara em declarar o Cabernet Sauvignon Stag's Leap Wine Cellars de 1973 e o Chardonnay Chateau Montelena 1973 como os grandes campeões.
O Dilema de Taittinger
Redundâncias a parte, cada um é o que é. Ou seja, somos frutos da nossa genética e do que o ambiente que nos cerca nos proporciona. Todos nós temos nossa fonte, onde buscamos o que é preciso para, como disse Nietzsche, nos tornarmos quem somos.
Esses ciclos são fundamentalmente compostos de eventos únicos, primeiros, que nos levam a uma situação até então nova, diversa do que nos era habitual. Evoluímos, portanto, buscamos melhorar, ampliar nosso espectro. E cada um ao seu ritmo, se vai caminhando.
Que o mundo dá voltas todo mundo sabe, mas as voltas que damos no mundo, uns sabem, outros não e tem os que ainda acham que entendem. O que os olhos não vêem o coração não sente, então é preciso ir atrás de insumos, matéria-prima para os nossos corações e acredite, todos fazemos isso o tempo inteiro.
Estamos sempre atrás dessas novas experiências, que nos completam, nos transformam e elas acontecem num ritmo extremamente rápido, que muitas vezes não nos permitem realizar o que já conquistamos, o que temos e o que deixamos para trás.
É muito fácil falar sobre isso, que de tempos em tempos devemos nos revisitar, pensar no que passou e nos planos que deixamos pelo caminho, mas como que realmente compreendemos e temos a verdadeira noção do que temos?
Não tendo.
Experimentando a ausência das nossas conquistas nos torna realmente capazes de entender o que elas representaram, não tendo alguém que se gosta por perto, se entende o quanto importante a pessoa é.
É uma caminhada complicada, para se saber o quanto importante, é preciso perder, ausentar; um passo escuro, pois até o momento de andar não há como saber o que está prestes a se perder. Mais vale estar sempre perto e não reconhecer a importância ou estar distante e reconhecer o seu valor?
Há quem diga que não é preciso nada disso, quando se sabe, se sabe; desde o primeiro minuto e para sempre, dizem...se é verdade, não sei, mas sei que não foi assim em Saint-Rémi Basilica.
Em 2005, a família Taittinger resolveu vender seus negócios que, além da famosa casa de champagne, incluía outros artigos de luxo como os cristais Baccarat e o hotel Crillon. A família havia crescido bastante desde 1934 quando Pierre Taittinger comprou o então Château de la Marquetterie e seus vinhedos para mostrar ao mundo o Champagne Taittinger.
Aparentemente... um ano depois, um neto de Pierre, Pierre-Emanuel Taittinger reuniu todas as forças que possuía e também outras forças bancárias e recomprou a vinícola, alegando que a venda havia sido como a perda da sua identidade e a traição de suas raízes.
Hoje, felizmente a Taittinger continua a ser uma das mais respeitadas vinícolas e seu Comtes de Champagne permanece entre os mais nobres vinhos daquela região.
Ao menos dessa vez, Vovô Pierre descansa em paz e seu neto sorri, próximo, e sabedor do valor, do seu tesouro.
Taittinger Prélude e o Toque Real
A viagem de Budapeste para a França, apesar da longa jornada atravessando Áustria e Alemanha, traz do outro lado da janela do trem um passatempo inesquecível. Assim que cruzou a fronteira saindo da Hungria, os alpes austríacos começaram a dar o ar da sua graça. Lindas paisagens cruzavam o caminho de Stefano, que na ausência de companhia, deixava as imagens tomarem toda a sua atenção.
Depois de ouvir do amigo cossaco sobre Napoleão e sua eterna busca pela realeza, seu destino não parecia ser outro senão aquele que produzia a bebida dos reis, o símbolo da celebração e o merecido refresco da vitória, o champagne.
Quando o trem cruzava Epernay, Stefano estava parecendo um cachorro para fora do vidro, queria experimentar, sentir, fazer parte dessa história de tradição e elegância. Faltava pouco para que o chão da gare de Reims chegasse ao seu encontro.
Continuando a mirar a mesma vista que uma vez contemplou a dama do champagne, Stefano se viu pensando sobre o quanto a vontade de uma pessoa pode revolucionar todo o mundo, o quanto a vontade em querer fazer o melhor pode fazer o mundo se curvar diante de uma garrafa.
Na outra mesa ocupada na calçada, uma elegante senhora bebia calmamente uma flûte de um néctar claro e borbulhante. Com seus trajes clássicos, uma echarpe esvoaçante por conta da brisa do inverno, tinha seu rosto parcialmente coberto por um monárquico chapéu, que a fazia se destacar dentre todos os outros passageiros da Avenue.
Não havia como não notá-la, sua presença até mesmo preenchia as mesas desocupadas e fazia com que a calçada ficasse mais estreita... uma duquesa? Herdeira de uma maison? Stefano ficou curioso...
Quando lhe foi oferecido o Menu do bistrot, Stefano não tardou a perguntar o que havia de diferente naquela senhora, que aura ela trazia que a deixava daquela maneira? A jovem francesa, num inglês carregado, disse:
- As Madame de Pompadour used to say, “Champagne is the only wine that leaves a woman beautiful after drinking it. It gives brilliance to the eyes without flushing the cheeks”.
Stefano, na sua ânsia por querer entender tudo e todos, se aproximou da senhora e, na tentativa de estabelecer qualquer contato com essa entidade que exprimia em todos os detalhes a quem uma garrafa de blanc de noirs sonhava em ser servida, indagou o que bebia.
A senhora bebia um Taittinger Prélude Grand Crus, de um aspecto brilhante, uma cor amarelada e perfeita borbulhas que tardavam a se dissipar. Esse champagne produzida na proporção de 50% Chardonnay e Pinot Noir totalmente provenientes da região de Champagne é feito totalmente de cuvée, ou seja, da primeira prensagem, mais leve, de onde os produtores acreditam se extrair o melhor produto.
- I drink a flute of champagne every day. At least for an hour I feel like the Queen of France.
Gevrey Chambertin e o Destino de Napoleão
Pois Dimitri, essa era a graça desse cosaco de bochechas rosadas como sua bandeira, era um grande apreciador de tintos, brancos, rosés, colheitas tardias, enfim, a uva fermentada em todas as suas formas.
Como já havia se percebido, Dimitri flertava constantemente com a política e guardava profunda admiração pelas biografias dos grandes líderes de seu país e mais tarde ficaria claro que seu apreço era endereçado a todos os líderes, independente de suas nacionalidades.
Costeando o Rio Danúbio, Stefano e Dimitri, saem das ruas principais de Budapeste, ainda observados pelo Castelo de Buda e entram no wine bar onde o russo havia reservado uma mesa. Apesar do inverno, o lugar estava bastante cheio. Duas pesadas portas de vidro tratavam de deixar o frio lá fora enquanto uma bem localizada lareira deixava o grande ambiente interno na temperatura ideal. Um grande balcão servia de morada para diversas garrafas onde, segundo constava, se preparavam premiados drinks de autor e alguns solitários tratavam de esquecer seus problemas.
Stefano estava envolto pela atmosfera do lugar e voltou a si com o chamado de Dimitri para sentar-se a mesa com duas mulheres que ali estavam. Eram duas alunas de Dimitri, que era professor de história na Universidade de Budapeste. As duas estavam a falar sobre a última aula, que trazia a biografia do maior general francês de todos os tempos. Dimitri, aparentemente alheio aos comentários das garotas, ordenou um vinho ao garçom, que logo se afastou.
Continuando com a conversa Dimitri, novamente embuído do espírito um tanto nostálgico e outro tanto poético, versava sobre os grande feitos de Napoleão Bonaparte. Dizia o professor que amava a Russia acima de tudo, mas naquele dia Napoleão havia feito o leste se curvar, e por consequencia também ele se curvara.
A Inglaterra, não satisfeita com a frágil paz que havia se instalado entre ela e a França, começa a costurar alianças para se levantar contra o império francês, e nessa coalização entram o império austríaco e russo, contava Dimitri. Armou-se uma revolta e após um breve período estavam todos os envolvidos em um clima de guerra, um exército marchando em direção ao outro.
Napoleão, grande estrategista que era, antecipou movimentos, definiu posições e usando táticas certeiras aniquilou as tropas inglesas e seus aliados austríacos e russos. Tudo isso durante 9 longas horas do dia 2 de dezembro de 1806. Essa batalha, a história tratou de chamá-la de Batalha de Austerlitz ou a Batalha dos 3 imperadores, e foi a vitória mais emblemática de Napoleão.
Dimitri dá um salto da cadeira, olha para Stefano e com a mão por dentro do próprio paleto, tal qual Napoleão, brada como um Imperador:
- And after the triumphant victory Napoleon said to his loyal soldiers: All you need to say is ‘I was at the Battle of Austerlitz‘ and everyone who hears will nod their head and think, ‘There goes a brave man!
Napoleão sabia, àquela época, que havia chegado ao topo, estava no apse, e tinha consciência de que lá estava. Costumava falar que fazia a sua própria sorte e quando achava o que lhe era melhor, aproveitava e saboreava o gosto da vitória. Esse era o seu destino, o melhor, a glória.
Nesse momento Dimitri é interrompido pelo garçom, que lhe oferece a rolha, questionando se poderia servi-lo. Tratava-se de um Gevrey-Chambertin. Um borgonha do Domaine Armand Rousseau. Chambertin, é uma sub-região incrustada no coração da Borgonha, onde se produz em uma boa safra vinhos inigualáveis, robustos e com um excelente potencial de guarda, afora seu aspecto militar, forte escuro e pesado.
Stefano, com todo esse ode à França, já estava tramando seu próximo, novo-velho destino, quando o cossaco provou que ouvira a conversa desde o ínicio.
Dizia ele que um Chambertin era o vinho preferido de Napoleão. Depois de provar esse vinho não se satisfez com nenhum outro, já havia encontrado sua glória, havia encontrado seu destino. Napoleão sempre soube quando havia atingido o topo.