Eu confio na Enocopa

Imagine o cara que jogou tudo no “preto” e deu “vermelho”... esse é o cara que apostou no ouro quando todos investiram na prata... esse é o cara que esperou, quando todos correram e correu quando todos esperaram... na vida fazemos escolhas, acertamos e erramos, estamos lançados à sorte. Assim ela é, a vida, sempre quieta, a espreita, parece que a espera para nos mostrar who’s in charge.

Que bom! Fico feliz em saber que o acaso ainda é responsável por grandes questões da vida. Por mais que se tenha programado, acertado e corrigido sempre pode vir o inesperado e, sem cerimônia, acabar com teus planos. Imagine se pudéssemos controlar a chuva? Agricultores contra vinicultores, cada um querendo a chuva a seu tempo e a sua intensidade. Não haveria sossego para o pobre operador de água e o SAC da Rain S.A. seria campeão de audiência em qualquer Procon.

Há várias situações que não controlamos. Um belo por-do-sol, cheio de cores, constrastes, num céu mesclando entre o laranja e o azul... não tem preço e por isso não está disponível. Não se pode controlar a hora que ele vai acontecer, levando o dia e trazendo a noite, desse jeito, se pode, ao máximo, admirá-lo, controlá-lo jamais.

Dias desses, apostamos todas as fichas no vermelho e deu vermelho... ou melhor, apostamos todas as fichas no rosé e deu rosé. Fizemos em Torres, a primeira edição da Enocopa. O evento de maior sucesso no Litoral Norte Gaúcho. Uma competição para eleger o vinho rose que mais agradasse a um criterioso e entendido corpo de jurados, sendo que o vencedor se sagraria o primeiro campeão da tal Enocopa, a do reclame de janeiro de 2010.

Entre os competidores tínhamos:

Argentina: Finca La Linda – Rose Malbec 2008.

Chile: Aquitonia - Cabernet Sauvignon Rose - 2008.

França sub-2006: Jean Luc-Colombo – Cote Bleue – 2006 (Appelation Côtes d’Aix en Provence).

França sub-2007: Lês Bateaux –Syrah - 2007.

França sub-2008: Domaine Ott – Chateau de Selles – 2008 (Appelation Côtes de Provence).

Italia: Cantina Zaccagnini - Montepulciano d’Abruzzo.

Nova Zelândia: Sanctuary - Sauvignon Blanc – 2008 (pra nao dizer que somos racistas tinha um vinho branco)

Portugal: Cabriz – DOC Dão – 2007

Menção honrosa para o famoso Mascacello, limoncello artesanal, que deu o ar da graça e aguçou o paladar dos populares.

Bem amigos....olhando essas garrafas perfiladas, lembro que voltamos ao vivo e em definitivo para a competição mais acirrada da história desde Mara Vs. Xuxa em 1986, anotando aqui o podium vencedor, na opinião deste humilde narrador...

Em terceiro lugar: Finca La Linda Malbec Rose

Em segundo lugar: Cantina Zaccagnini

E em primeiro lugar, confirmando o favoritismo, e sagrando-se o primeiro campeão da Enocopa........ Domaine Ott – Chateau de Selles.... Espetacular....sem precedentes.... já um ícone....

Ehhhhh amigo.....como diria o camisa 9... foi uma festa bonita, com comida e companhias maravilhosas. Que bom!

Volta e meia surge sempre algo a nos surpreender, a nos tirar o chão, nos deixar de guarda baixa... são esses os inesperados fatos da vida, que acabam por preocupar... mas que bom que temos encontros com pessoas queridas, festas mucho animadas, histórias pra participar e contar, enfim, que bom que, apesar das incertezas da vida ainda há coisas nas quais se pode confiar.

Em Busca dos 5 Cálices Sagrados

E o Stefano hein? Conhecem o Stefano?

Desde pequeno sempre foi ele, sabe... um olhinho vivo, preocupado e curioso ao mesmo tempo. Logo viu-se que palhacinhos e bonecos não eram sua praia, seu brinquedo preferido era uma garrafa de champagne baby que ele teimava em tilintar contra as grades do bercinho.

Presidiário de sua cama já tão cedo? Faisquinhas tintas no olhar do pequeno Stefano... Via-se desde piccolo que queria ganhar o mundo, pular da cama para a vida, sair a desbravar os terroirs do mundo.

E assim foi-se indo, aqueles olhinhos vivos, sempre mirando o norte, o topo, tentados a descobrir o melhor, e dessa forma, não poderiam por muito ficar afastados daquela região. Um pequeno pedaço de terra, o cantinho mágico, que por obra do destino manejou-se reunir tudo o que há de mais excelente, premier manja?

E o nosso Stefano se pôs a bailar nessa onda, pensando ele ficou, e então passou o tempo, não muito, mas um bom tempo. Do berço para a cama da gradinha, cama de solteiro, uma cama de casal por uns tempos e depois novamente a cama de solteiro. Rolou um beliche por uns tempos, mas essa é outra história; o que importa é que faltava algo na vida do nosso herói. Faltava chegar ao topo, o lugar onde seus olhos e sua mente estavam fixados, já sabedores do que almejavam. Já havia provado chardonnays , malbecs, carmenères, pinots noir, pinots grigio, nebbiolos, e tudo mais... mas havia algo pendente...

Faltava-lhe o Bordeaux.... mas naquela combinação sagrada de cabernet sauvignon, cabernet franc e merlot (com pitadas de petit verdot em alguns vinhos).

Como ele queria, ah.... seus 5 destinos, 5 paraísos, 5 haréns, 5 oasis venerados por todos aqueles que sabem que uma garrafa de Bordeaux esconde um universo de facetas, sabores e sensações únicas. E lá se foi ele, a interagir com os únicos 5 vinhos tintos a pertencerem ao grupo dos Premier Cru.

Por conta de um pedido do Rei Napoleão III, em 1855, foi elaborado uma classificação para os vinhos produzidos em Bordeaux de acordo com a reputação de seus fabricantes e valor de mercado das garrafas. Assim, criaram-se as suas 05 categorias, da Cinquième Cru, formada pelos vinhos menos conceituados até a Premier Cru, a superior, formada pelos vinhos Chateau Lafite-Rothschild, Chateau Latour, Chateau Haut-Brion, Chateau Margaux e em 1973 foi feito o único adendo nessa lista, com a inclusão do Chateau Mouton-Rothschild.



Um alívio, uma redenção tomou conta de seu espírito vinífero e Stefano sentiu que era hora de buscar novos horizontes... já passara os olhos sobre o que há de mais idolatrado nesse mundo tinto e, seguindo essa ideia pensou que era hora de buscar um pouco de doçura na vida. Seria um Sauterne très special? Ah, esse Stefano......

As Rosas de uma Noite

Assim numa vibe meio Françoise Hardy.....

Quem são essas passageiras, que a nós vem e assim se vão, e veem e são vistas e serão, sempre, as rosas de uma noite. Como elas podem ser assim como são? Como elas são, assim, sem se importar com o amanhã?

Assim elas são, como as novas que a manhã traz, as novas de um dia ou de uma noite.

O que fazer? Como se portar diante da beleza rosada que te derruba sem esforço? É da natureza delas, das rosas de uma noite, vivem a vida a girar, a subir e a descer as escadas do momento, fazendo querer e assim, queridas se vão, fazendo tentar e resistindo às tentações.

E assim se foram, como o outono que tarda, mas não olvida, para longe, e deixando dúvidas e arrependimento e no fundo uma sensação de aventura, de uma história pra contar. São assim elas, as rosas de uma noite.

Assim são elas, e assim é o Chateau La Coste – Rosé d’une Nuit - 2008 – por uma noite apenas...

Os anos 50 e a Safra do Cometa

Eu sou um cara a moda antiga…não vivo nos tempos passados, mas acho que meu lugar seria lá.

Sabe tipo os anos 50, comecinho dos anos 60, bem ali... Depois da metade dos anos 60 já começou toda aquela onda de cabeleira, ie ie ie, peace and love que não é muito o que eu to procurando. To atrás de um lance mais com uma cara de Belle Époque, bem assim... the 50’s.

Naquele tempo não existia a proximidade do mundo que existe hoje, o que estava na Europa vinha devagarinho pra cá, demorava séculos, e então, restava às pessoas sonhar e imaginar o que se passava nos outros cantos do mundo. Isso no fundo é bom, porque o que importa de fato é o que se está vivendo aqui e agora... não saber é um problema, não ter como saber, uma solução.

E assim eles viviam, eu imagino, os nossos queridos cinquentinos, preocupados com seu dia, sua roupa e seu destino, desprezando a pressa em se atualizar, já que o novo ainda não havia chegado, e na verdade ainda tardaria.

Esse tipo de situação é tão importante que, muitos dos clássicos de hoje, em qualquer área, se originaram naquela época. Esses anos nos regalaram Frank Sinatra e seu eterno Rat Pack, uma época em que o próprio Sinatra, uma lenda, jantava às escondidas com o Presidente JFK, outra lenda, como se corriqueiro fosse e dividiram as atenções de uma das maiores divas de todos os tempos, Marylin Monroe, uma... uma... lenda...

Que época! Que inveja! Queria eu ter feito parte dessa história, que dizem, até gerou um “clube”, the People who shook Sinatra’s Hand Club. Eles sabiam reconhecer seus ídolos, dando a eles sua devida importância. Hoje todos são ídolos e num piscar de olhos são esquecidos... os tais 15 minutos de fama que Andy Warhol previu muito apropriadamente. Uns rotularam a década de 80 como cult ou brega, a de 70 como revolucionária e libertina, a de 90 como impessoal e digital e a de 50 é clássica, não se dobra com o passar dos tempos, melhora com os anos.

De tempos em tempos somos brindados por essas datas, que estabelecem conceitos e critérios que dificilmente serão esquecidos ou superados.

Em 1811 foi assim... bem assim...

Nessa fantástica França de 1811, todas as condições estavam perfeitas para um safra histórica e, de fato ela ficou conhecida como uma das mais soberbas da história, dita por alguns como insuperável em termos da qualidade das uvas que produzira.

Dizem.... dizem... que os astros ajudaram, tanto que um cometa foi visível durante toda essa safra, que ficou conhecida como A Safra do Cometa. Nesse mesmo 1811, Madame Barbe-Nicole Ponsardin, já viúva do Seu Clicquot, produzia uma das melhores safras da história de seu Champagne.


Esse champagne, bem como outros vinhos dessa safra do cometa, não circulam mais por aí, assim como os anos 50 não voltam mais. O que eles foram, seu gosto, não podem mais ser provados, mas é bom saber que eles um dia existiram e na medida que o tempo passa mais sao eles admirados e nos trazem aquela sensacao de que algo ja passou, mas esta bem guardado, apesar de nao vivido.