O Dilema de Taittinger

Certa vez, uns tempos atrás, quando a sensibilidade me pegou desprevenido, disse que há muitos ciclos na vida, ciclos esses que se iniciam e terminam sem aviso, apenas acontecem. A tal dinâmica da vida.

Redundâncias a parte, cada um é o que é. Ou seja, somos frutos da nossa genética e do que o ambiente que nos cerca nos proporciona. Todos nós temos nossa fonte, onde buscamos o que é preciso para, como disse Nietzsche, nos tornarmos quem somos.

Esses ciclos são fundamentalmente compostos de eventos únicos, primeiros, que nos levam a uma situação até então nova, diversa do que nos era habitual. Evoluímos, portanto, buscamos melhorar, ampliar nosso espectro. E cada um ao seu ritmo, se vai caminhando.

Que o mundo dá voltas todo mundo sabe, mas as voltas que damos no mundo, uns sabem, outros não e tem os que ainda acham que entendem. O que os olhos não vêem o coração não sente, então é preciso ir atrás de insumos, matéria-prima para os nossos corações e acredite, todos fazemos isso o tempo inteiro.

Estamos sempre atrás dessas novas experiências, que nos completam, nos transformam e elas acontecem num ritmo extremamente rápido, que muitas vezes não nos permitem realizar o que já conquistamos, o que temos e o que deixamos para trás.

É muito fácil falar sobre isso, que de tempos em tempos devemos nos revisitar, pensar no que passou e nos planos que deixamos pelo caminho, mas como que realmente compreendemos e temos a verdadeira noção do que temos?

Não tendo.

Experimentando a ausência das nossas conquistas nos torna realmente capazes de entender o que elas representaram, não tendo alguém que se gosta por perto, se entende o quanto importante a pessoa é.

É uma caminhada complicada, para se saber o quanto importante, é preciso perder, ausentar; um passo escuro, pois até o momento de andar não há como saber o que está prestes a se perder. Mais vale estar sempre perto e não reconhecer a importância ou estar distante e reconhecer o seu valor?

Há quem diga que não é preciso nada disso, quando se sabe, se sabe; desde o primeiro minuto e para sempre, dizem...se é verdade, não sei, mas sei que não foi assim em Saint-Rémi Basilica.

Em 2005, a família Taittinger resolveu vender seus negócios que, além da famosa casa de champagne, incluía outros artigos de luxo como os cristais Baccarat e o hotel Crillon. A família havia crescido bastante desde 1934 quando Pierre Taittinger comprou o então Château de la Marquetterie e seus vinhedos para mostrar ao mundo o Champagne Taittinger.

A terceira geração, aparentemente, não dividia os ideais dos avós, o orgulho de fazer um cuvée delicado, com um olhar voltado para a harmonização gastronômica que é aclamado como um dos mais conceituados do mundo e também um dos melhores da França, um planeta a parte.

Aparentemente... um ano depois, um neto de Pierre, Pierre-Emanuel Taittinger reuniu todas as forças que possuía e também outras forças bancárias e recomprou a vinícola, alegando que a venda havia sido como a perda da sua identidade e a traição de suas raízes.

Hoje, felizmente a Taittinger continua a ser uma das mais respeitadas vinícolas e seu Comtes de Champagne permanece entre os mais nobres vinhos daquela região.

Por mais aclamado e explicado que um sentimento seja, ele só vai ser entendido se sentido na pele; a teoria é sempre muito útil, mas na prática é que se compreende as verdadeiras necessidades e se conhece as íntimas emoções.

Ao menos dessa vez, Vovô Pierre descansa em paz e seu neto sorri, próximo, e sabedor do valor, do seu tesouro.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo!!!
Valeu esperar.
Beijos
M

Unknown disse...

A M E I ! Bjs

Espaço de Dança disse...

Retorno triunfal! Amei! Bjo Beba

Anônimo disse...

Marco! Espero que tu continues degustando muitos vinhos em terras européias e produza muitos textos como esse! Congrats